Se o militante se dedica ao movimento, se entrega sua vida às causas maiores, se constrói suas relações sociais em torno das relações de militância, o movimento e/ou organização tem responsabilidade e compromisso moral com esses e essas militantes.
O que isso quer dizer?
Nós, militantes dos diferentes setores da sociedade civil organizada reiteramos nossas relações sociais.
Muitas vezes, abdicamos da própria família (estou entendendo família no sentido da família pequena burguesa, instituída pelo capital), ou então, construímos relações afetivas paralelas a elas no dia-a-dia da militância.
A recorrente prática de tática dois. Prática feita, direta ou indiretamente, oficial ou não, em que militantes de uma organização cooptam militantes para a sua organização através das relações afetivo-pessoais demonstram como esse viés é eficiente.
Relacionamos-nos com companheiros e companheira construindo laços afetivos que vão substituindo o modelo da família burguesa. Re-configurando a estrutura afetiva em que nos apoiamos para enfrentar os momentos difíceis na vida, não só na militância mais nas relações psico-afetivas.
Relações que se tornam alicerces de nossa vivencia, a ausência das mesmas, principalmente se de forma inesperada causam tremendo vazio, que resulta em uma profunda depressão. (Aqui teríamos outros exemplos possíveis, uma demissão inesperada, por exemplo)
As organizações que tem a prática de cobrar de seus militantes uma atuação integral, 24 horas por dia, intensificam essa quadro, muitas vezes fidelizando os militantes por essas relações, por mais que isso não seja claro, ou ainda não seja abertamente reconhecido como prática.
Claro que, uma concordância política mínima há, pois isoladas as relações não se sustentam. Porém, reiteramos o poder que essas práticas têm em nossa vida de militante.
Já caiu por terra, ou deveria ter caído, a idéia de que militante não tem vida pessoal, ou ainda, que deve se sacrificar por inteiro para a construção do movimento, ou pior ainda, da organização. (Entendendo que nenhum partido, organização ou outro “órgão” deveria estar à frente do movimento, da revolução, ou seja, da dedicação, essas organizações devem sim articular o processo, mas não colocar seus interesses de fortalecimento da entidade à frente dos/das trabalhadores, expropriados e explorados... enfim, da superação do capital).
A História tem nos mostrado que nos regimes de sistemas autoritários essas barreiras entre o público e o privado ficam ainda menores, se é que é possível, em qualquer contexto, separá-las de forma metódica.
Uma coisa, para mim, se torna a cada dia mais claro:
- A organização não deve interferir de forma nociva na vida intima dos e das militantes e tem que estar atenta quando seus e suas militantes estão passando por dificuldades de qualquer tipo, afinal, nós temos endereço, problemas, sentimentos, momentos de gáudios e de infortúnios, militantes, sim! Socialistas alguns, máquinas, nenhum!
Hahaha, podes crê!
ResponderExcluir¨¨Nóssas vidas são interligadas por essas relações que se misturam! =/ Muito bom o texto! :)¨¨
ResponderExcluirSabe o que eu mais temo em qualquer movimento social que almeja uma revolução? A certeza.
ResponderExcluirA certeza da injustiça sofrida, a certeza de que a luta é legítima, a certeza da existência de inimigos reais, a certeza de que as coisas podem e devem mudar...
A lógica revolucionária requer necessariamente essas certezas, se alimenta delas. E se por um lado a certeza pode levar a gloriosas ações, por outro, pode desembocar em uma selvageria sem limites. E me parece, infelizmente, que esta última possibilidade é mais constante.
Vejo no menino franzino de camiseta vermelha que cita Marx ali no boteco da esquina um amor tão grande a justiça que, é preciso que se reconheça, até Gandhi invejaria. Mas, tragicamente, o menino convicto em relação a sua causa, se lança a ação. Então o amor sereno e sóbrio que antes se manifestava em seu coração sede lugar a uma paixão desenfreada que a todo custo deseja conquistar seu objeto de desejo. E assim, cego por estabelecer núpcias eternas com sua amada, cego por alcançar o fim de sua causa, mata, saqueia, pilha. Eis o frequente itinerário de um revolucionário: da virtude ao terror.
Anderson Elias
anderson-elias@hotmail.com
ok, então, construamos turnos de militancia! rs ( eu demanha, joao atarde, jaqueline sexta anoite rs)
ResponderExcluirnão sei se vejo responsabilidade no movimento pelo militante, só a inversa vejo como verdade! Creio que movimentos sem extrema doação me faz parecer hobby! "tipo, eu gosto de plantar!", "eu gosto de ver filmes". Ontem mesmo eu tava divagando sobre as coisas que eu realmente gosto, puxei na cabeça 3 coisas que eu AMO, ADORO, nao vivo sem...! opa, nao vivo sem? Claro que eu vivo, pois, na ausencia destes meus prazeres eu acharia outros para me distrair. Ai me veio a punhalada. Que manutençao eu faço para que estas minhas "vaidades" continuem a existir? e nunca se extinguam. Eu não milito sobre elas! São apenas hobbies! Pudera eu, ter uma ideologia forte para acreditar, lutar e defender! ... tenho algumas, mas letargicamente me conforto em aproveitar o momento... erro! Mas pelo menos eu nao sou militante! nem pseudo-militante, nem simpatizante....
franco.gsantos@hotmail.com